12 de ago. de 2015

Entrevista com Ricardo Biazotto



1.  1.   Você começa a escrever com um vislumbre do clima, atmosfera, ambiente, ou tudo acontece no "escrever" mesmo?

R: Acho que isso depende muito da história. Isso porque algumas ideias surgem por completo e outras precisam ser desvendadas durante todo processo de escrita. Com isso, enquanto no primeiro caso tenho em mente todos os detalhes e sei por onde começar a pesquisa e a própria escrita, no segundo caso vou realizando tudo isso aos poucos.


2.      Há escritores que reescrevem sempre o mesmo livro? Temendo isto, você muda de gênero como troca de camisa?

R: No início sim, mas aos poucos fui definindo o gênero que realmente gostaria de trabalhar, ao menos para formar meu nome na literatura, por isso atualmente o drama é o meu foco. É bem verdade que quando surge uma oportunidade de publicação em outro gênero, por exemplo, preciso aproveitá-la, mas não é algo que acontece com frequência.

3.      Falemos de cama: adormecendo lhe vem uma ideia, deixa para pensar no dia seguinte ou levanta-se de um salto, alucinado?

R: Costumo anotar as principais ideias, mas isso não significa que faço disso uma obrigação. Isso porque se a ideia realmente for boa, sei que não será esquecida facilmente e será possível anotá-la, com maior clareza, na primeira oportunidade.

4.      Seus julgamentos de valor são influenciados pelo calor da hora ou você mantém um distanciamento crítico?

R: Quando necessário consigo separar os meus valores, mas muitas vezes isso se torna impossível. Mais uma vez tudo vai depender da história. Se ela exigir que utilize o que eu acredito, isso certamente acontecerá e de forma muito clara ao leitor.

5.      Sentimentos negativos como ódio, ciúme, inveja, vingança são motores bem regulados para a criação de uma obra?

R: Mesmo negativos esses sentimentos fazem parte do ser humano, então são essenciais para que uma personagem se torne real. É preciso elaborar bem a personalidade para que não perca o sentido, mas em alguns casos isso é realmente necessário.

6.      O que faz quando sente que uma personagem lhe escapa?

R: Costumo deixar a personagem definir seu próprio destino. Ao menos nas primeiras versões. Depois disso, o criador precisa exercer o seu poder e tomar as decisões exigidas pela história.

7.      Quando percebe, porém, que a personagem está fraca, que as ideias estão murchas, você recomeça ou adota a ironia em relação a elas?

R: Costumo deixar a história para outro momento, até que novas ideias apareçam para fazer a diferença em relação a essa personagem. Trabalhando em novos textos isso pode acontecer mais naturalmente.

8.      Cercado de baixo-astral por todos os lados, insiste em escrever porque...

R: … a escrita funciona para escapar da realidade e assim reencontrar sorrisos e, quem sabe, a felicidade.

9.      A técnica é tudo, nada, meio caminho andado? Aliás com quem aprendeu?

R: Tudo. Conhecendo o trabalho de alguns amigos que desconhecem totalmente o assunto, fica claro como ela faz total diferença no resultado final de um texto. Por isso procuro pesquisar muito sobre o assunto, através de conversas, cursos e materiais especialmente dedicados a isso.

10.  Escrever é só inspiração?

R: De forma alguma. Como disse anteriormente, a técnica é essencial. A escrita acaba sendo o resultado da união de diversos fatores, como inspiração, técnica, sentimentos, etc.

11.  Quando atacado pela preguiça, como você consegue combatê-la?

R: Felizmente a preguiça não me atrapalha. O problema mesmo é a falta de inspiração. Quando isso acontece, é preciso esperar que ela volte ou no mínimo encontrar algo que devolva o prazer da escrita.

12.  Quando inicia um texto sabe antecipadamente seu conteúdo?

R: Também como disse anteriormente, depende muito da história. Algumas vezes sei apenas onde quero chegar, mas não como fazer; outras vezes sei exatamente o caminho que devo percorrer, porém não o que encontrarei no ponto de chegada. Esses detalhes tornam o trabalho tão especial.

13.  Tem algum escritor em que se espelha?

R: Muitos. Poderia passar um bom tempo citando, mas, entre outros, me espelho muito em Maurício Gomyde, Samanta Holtz, Nicholas Sparks, autores que se dedicam ao gênero que mais trabalho atualmente.

14.  Um escritor está sempre absolutamente consciente do que faz?

R: Em alguns casos sim, em outros absolutamente não. O escritor precisa colocar muito de seu coração e de sua mente em uma obra, porém uma personagem pode seguir seu próprio caminho e isso se tornar praticamente insignificante.

15.  Qual foi o seu primeiro e decisivo ato literário?

R: Apesar de ter escrito vários textos antes, acredito que o ato decisivo tenha sido a escrita do conto selecionado para integrar a antologia “Dia Contados Vol. 2 — Contos sobre o fim do mundo” (2011). Se não tivesse arriscado, provavelmente hoje não estaria respondendo essa entrevista.

16.  Quando começou a escrever, já fazia planos de seguir carreira?

R: Até comentava que gostaria de ser escritor, mas não fiz nenhum plano relacionado a uma possível carreira. Foi apenas quando comecei a me apresentar como escritor que isso passou a acontecer — ainda que mesmo hoje prefira deixar acontecer.

17.  Em caso de dúvida, impasse, descrença, você se aconselha com quem? (amigos, editor, leitor beta, etc).

R: São poucos os amigos com quem posso conversar sobre todos os assuntos, em especial ligados à literatura, mas os amigos blogueiros são fundamentais em momentos como esse. Leitores betas também são imprescindíveis, assim como minha irmã. Acho que um dia ela vai preferir que eu abandone a literatura para deixá-la finalmente em paz. rsrs

18.  Música de fundo e café são indispensáveis?

R: Sem dúvida! Música, café, Coca-Cola e um bom vinho!

19.  Afinal qual o prazer do texto?

R: O grande prazer é saber que um texto pode ter um poder transformador. Todos nós leitores vivemos alguma situação em que um livro mudou nossa forma de agir, por exemplo, então saber que um texto de minha autoria pode, quem sabe, ter esse mesmo poder, apenas me motiva a sentar todas as manhãs e dedicar algumas horas a uma história. Se estou fazendo bem ou não, apenas o leitor pode dizer. Porém, se for o caso, será possível me sentir realizado e principalmente sentir prazer por meu trabalho.

20.  Para você como é escrever?


R: Escrever é uma arte e, como toda arte, ela exige dedicação e principalmente paixão por parte do artista. Um trabalho solitário, muitas vezes demorado, mas ainda assim um trabalho prazeroso. Escrever faz parte de minha rotina e da minha vida de um modo geral. Isso porque ao escrever sei que estou plantando uma semente que um dia pode dar frutos. Frutos esses que podem ser deliciosos se cumprir o papel da arte: tocar o coração.


NAT MOTA.

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